terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Entrevista de Fernanda Pires da Silva - A Viagem de JK

Roberto Castro



A empresária Fernanda Pires da Silva, que contratou JK durante o exílio, tem grandes projetos no Brasil. Ex-sócia de Roberto Marinho, da Globo, em fazendas de gado nelore, Fernanda sonha em viabilizar no País o maior complexo de ecoturismo do mundo, em parceria com o arquiteto Oscar Niemeyer. A seguir, sua entrevista à DINHEIRO.

DINHEIROPor que Juscelino viajou secretamente para o Rio de Janeiro no dia em que morreu?
FERNANDA – “Ele teria de estar no Rio para discutir com seu advogado sua participação na minha construtora, a Edec. Ele temia ser acusado de ter dinheiro no exterior. Mas garanto que ele nada tinha.”

Juscelino foi seu sócio na construtora?
“A verdade é que, quando se exilou em Paris, ele não tinha dinheiro e precisava trabalhar para viver. Por isso o convidei para trabalhar comigo. Então deixei meu lugar na presidência da Edec para que ele assumisse o posto. A lei também exigia que, para ser administrador da empresa, ele precisava ter ações. Então lhe doei 100 ações, mas nunca foi um sócio efetivo.”

Ele morreu com dívidas pendentes?
“Sim, o salário que ganhava como executivo dava para comer e morar bem, mas não para fazer política no exílio. Foi então que
ele pediu um empréstimo no Banco Português do Atlântico. Recordo-me ainda quando ele tomou empréstimos com o empresário Sebas-
tião Paes de Almeida, seu ex-ministro da Fazenda. Ele foi a Portugal para que Juscelino assinasse os documentos. Lembro-me ter dito: ‘Como é possível um ex-ministro seu emprestar-lhe dinheiro com juros de 8%?’. Ao que ele me respondeu: ‘Só conhecemos os homens quando caímos’.”

Como Juscelino se comportou como empresário?
“Era um homem dinâmico e carismático, que se comunicava com todos, principalmente os mais humildes, fato pouco freqüente
em Portugal. Todos queriam conhecê-lo, desprovidos de hostili-
dade, embora a imprensa na época o incriminasse injustamente
de cometer irregularidades. Mas devo também reconhecer que
ele era uma negação como empresário, tinha dificuldades de negociação de contratos.”

Qual a razão exata dele não ter dado certo como empresário?
“Eu o vi deitar lágrimas quando se sentia isolado, angustiado pelo desejo de voltar ao Brasil. Mais de uma vez isso aconteceu. Também vi Sara e sua filhas sofrerem muito com as acusações de que Juscelino teria enriquecido ilicitamente. Era esse o clima do seu exílio quando um dia ele foi fazer uma conferência em Nova York e de lá me escreveu uma carta particular que dizia: ‘Estou disposto a tudo, mas não posso viver longe do meu País’. Então pediu demissão.”

Fonte: Revista Dinheiro

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/336/economia/336_lado%20empresarial_jk_02.htm


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